sábado, 13 de setembro de 2025

Entre A Razão, Sagrado, Simbólico, Imaginário...

Entre a razão e o imaginário: quando o pensamento racional e a sutileza se unem e viabilizam sonhos, perspectivas, projetos



Entre o sacro e o sagrado: distinções necessárias

O ser humano vive imerso em tensões simbólicas. Uma delas é a diferença entre sacro e sagrado. O sacro é a categoria que separa o que pertence a outra ordem daquilo que é profano. É conceito, estrutura, limite. O sagrado, ao contrário, é experiência: aquilo que nos toca, que provoca reverência, temor ou encantamento. O sacro é a moldura; o sagrado, a pintura viva.

De forma semelhante, confundimos com frequência racionalidade e racionalismo. A racionalidade é faculdade humana: a capacidade de pensar, calcular, organizar, agir com coerência. O racionalismo, por sua vez, é uma doutrina filosófica que elege a razão como instância suprema de conhecimento (Descartes, Spinoza, Leibniz). Ou seja, todos podemos exercer racionalidade em algum grau, mas nem todos aderimos ao racionalismo como visão de mundo.

Outro par que se entrelaça é o de espiritualidade e religião. A espiritualidade é vivência interior, subjetiva, ligada ao sentido e à transcendência. A religião é forma social, institucionalizada, com dogmas, rituais, hierarquia e comunidade. Pode-se ser espiritual sem ser religioso; pode-se seguir uma religião sem vivenciar uma espiritualidade profunda.

Essas distinções não são meramente acadêmicas: ajudam a perceber os modos pelos quais interpretamos e nos relacionamos com a realidade.


O sagrado na lareira de Vesta e a razão de Atena

As mitologias greco-romanas oferecem figuras que personificam essas forças.

  • Atena/Minerva: deusa da sabedoria prática, da inteligência estratégica, da razão lúcida.

  • Apolo: deus da luz, da harmonia, da medida, contraponto à embriaguez dionisíaca.

  • Hermes/Mercúrio: mensageiro, patrono da comunicação e da astúcia racional.

  • Zeus/Júpiter: guardião da ordem cósmica, da lei que sustenta o equilíbrio.

  • Héstia/Vesta: guardiã do fogo sagrado da lareira, símbolo da coesão e da continuidade.

Nessas imagens, vemos como os antigos já buscavam equilibrar razão e sensibilidade, ordem e fervor, lei e imaginação. Héstia/Vesta, com sua chama invisível mas essencial, lembra que o sagrado não está apenas nos grandes feitos, mas na manutenção silenciosa da vida. Atena mostra que a sabedoria estratégica também é indispensável para o bem comum.


Quando a razão se engessa

A razão é uma força vital: clareia, organiza, protege do caos. Mas quando se engessa, cai-se em um sedentarismo energético-psíquico-espiritual.

Assim como um corpo imobilizado perde flexibilidade, também a mente que se fixa apenas no cálculo se torna rígida. O excesso de racionalismo não apenas restringe a imaginação: engessa o acesso ao sagrado, bloqueia o criativo e empobrece o espiritual.

O gesso, contudo, não é definitivo. Ele pode ser dissolvido pela água da sensibilidade, quebrado pelo impacto de novas experiências ou removido pelo exercício consciente. A imagem é potente porque sugere que aquilo que endurece também pode ser transformado.


O imaginário: motor invisível da humanidade

Segundo Laplantine e Trindade, o imaginário é o tecido em que imagens, símbolos e narrativas se entrelaçam

Ele não é mero devaneio, mas um campo criador que se projeta no futuro e reinterpreta o presente.

Yuval Harari, em Sapiens, mostra que nossa espécie prosperou porque soube inventar ficções coletivas: deuses, nações, direitos, empresas


Portanto, longe de ser uma fuga, o imaginário é instrumento de sobrevivência e transformação. É nele que germinam as ideias que mais tarde se consolidam em ciência, política, arte e religião.


Tipos de imaginário

O imaginário pode ser observado em diferentes camadas:

  • Individual: sonhos, memórias, fantasias pessoais.

  • Coletivo: mitos, tradições, narrativas partilhadas.

  • Arquetípico: padrões universais como herói, sombra, mãe, trickster.

  • Tecnológico/utópico: visões de futuro, ficções científicas, utopias e distopias.

Conhecê-los é crucial: quem ignora o próprio imaginário pode ser dominado por imagens invisíveis que moldam comportamentos sem consciência.


O simbólico: linguagem que atravessa

Se o imaginário é o campo fértil, o simbólico é a linguagem que o atravessa. O símbolo não se reduz a um signo: ele mobiliza afetos, contém uma pluralidade de sentidos, conecta visível e invisível.

A cruz não é apenas um objeto: é presença de Cristo para aquele que crê. O espelho de Oxun não é apenas reflexo: é manifestação divina. O símbolo, como lembram Laplantine e Trindade, tem eficácia porque mobiliza emoções, legitima instituições, orienta ações

Sem símbolos, a vida social perde densidade.


Ciência e imaginário: uma aliança improvável

À primeira vista, ciência e imaginário parecem opostos. Mas toda ciência começa com uma imagem, uma hipótese, um “e se...?”.

  • Kepler sonhou com viagens lunares antes de formular suas leis.

  • Einstein imaginou cavalgar em cima de um raio de luz.

  • Watson e Crick montaram modelos de arame e papelão para visualizar o DNA.

  • Júlio Verne inspirou engenheiros de submarinos e astronautas.

A ciência valida, mas é a imaginação que cria. Um sem o outro é estéril.

E mais: não é porque algo não foi visto, medido ou explicado pela ciência em determinado momento que ele inexiste. A história está repleta de realidades sutis ou invisíveis que só depois se tornaram compreensíveis. Se em 1900 alguém falasse de partículas como o neutrino, teria sido motivo de riso ou descrença — afinal, não era possível sequer imaginar algo tão esquivo. Hoje, o neutrino é central para entendermos o universo. Isso mostra que o imaginário não é apenas invenção: é também um antecipador de realidades que mais tarde podem ser comprovadas. O invisível de ontem pode ser a evidência de amanhã.


Arte e criatividade: guardiãs da vida humana

A arte dá forma ao indizível, reorganiza afetos, resiste ao automatismo. Criar não é luxo, é necessidade.

  • Expressão: traduz o que escapa à linguagem comum.

  • Cura: atua como reorganização simbólica e terapêutica.

  • Expansão: amplia percepções, abre novas maneiras de ver.

  • Resistência: questiona, subverte, rompe silêncios.

  • Humanização: lembra que somos seres de sentido, não apenas de sobrevivência.

Sem criatividade, a vida torna-se repetição sem alma.


O olhar crítico: vieses e falácias

É importante reconhecer os vieses que rondam esse tema:

  • Viés de confirmação: só buscar exemplos que reforçam a ideia de que o imaginário é sempre positivo.

  • Idealização romântica: esquecer que o imaginário também pode gerar fanatismos, preconceitos, alienações.

  • Falácia da composição: generalizar experiências individuais como se fossem universais.

  • Apelo à consequência: afirmar que “sem imaginário não há futuro” como argumento definitivo, quando é mais reflexão do que prova.

Reconhecer essas limitações não invalida a importância do imaginário e do simbólico; apenas os coloca em perspectiva crítica.


Conclusão: escrita como mobilidade interior

Entre razão e imaginação, entre o sagrado e o racional, entre o simbólico e o científico, o humano se move em tensão criativa.

Se apenas racionalizamos, corremos o risco de engessar nossa psique, cair em um sedentarismo energético-psíquico-espiritual que nos afasta da criatividade e do espiritual. Se apenas fantasiamos, perdemos ancoragem na realidade.

Escrever exige justamente esse equilíbrio: clareza racional e mobilidade imaginária. É exercício de travessia, não de imobilidade. É manter a chama de Vesta acesa enquanto Atena sopra discernimento. Assim, a escrita deixa de ser um gesto técnico e se torna experiência vital. 





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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Quintessência e a Escrita

 

A Quintessência da Escrita: entre a palavra e o essencial

Introdução

Na alquimia, a quintessência era a substância mais pura, obtida após repetidas destilações. Na filosofia, era o quinto elemento que sustentava o cosmos. No uso cotidiano, tornou-se sinônimo do que há de mais elevado, essencial e irrepetível.

E na escrita, o que podemos chamar de quintessência?
Seria o estilo? O tema? A originalidade? A emoção que desperta? Ou tudo isso reunido em uma matéria invisível que só se revela quando a obra toca o leitor?

A escrita, especialmente a criativa, é também um processo de destilação: cortar excessos, lapidar palavras, revisar frases até que reste aquilo que expressa o núcleo do texto. Assim como os alquimistas buscavam a essência indestrutível, o escritor busca o que é vital em sua narrativa.




A palavra como matéria viva

Cada texto nasce de palavras, mas nem toda combinação de palavras alcança a quintessência. Escrever é mais do que alinhar frases: é dar forma à experiência humana.

No copydesk, por exemplo, vemos como um texto já existente pode se transformar quando as palavras são reposicionadas, quando a cadência é ajustada, quando as repetições são eliminadas. O sentido permanece, mas a força aumenta. O que era ruído se torna música.

A quintessência da escrita, nesse sentido, é o momento em que a palavra deixa de ser mero veículo e se torna presença.


Escrita criativa: onde a essência aparece

Na escrita criativa, a quintessência não se alcança apenas com regras técnicas. Ela aparece quando:

  • a metáfora não é ornamento, mas chave de sentido;

  • o ritmo da frase acompanha a respiração da emoção narrada;

  • a cena transmite mais do que descreve;

  • o narrador encontra sua voz autêntica.

Podemos chamar isso de estilo, mas é mais do que estilo: é a assinatura invisível do autor. Algo que não se copia nem se ensina diretamente, mas que pode ser cultivado por meio de leituras, exercícios, reescritas e consciência estética.


A revisão como destilação

O processo de revisão é a destilação da escrita.
Assim como os alquimistas buscavam separar o essencial do acessório, o escritor revisa para retirar excessos, corrigir desvios e deixar apenas o que é necessário.

No copydesk, esse movimento é ainda mais evidente. O texto já existe, mas carece de clareza, ritmo ou precisão. O trabalho do copydesk não é mudar a voz do autor, mas ajudar o texto a alcançar sua forma mais apurada.

A quintessência surge quando cada palavra está no lugar certo, quando não sobra nem falta nada.


O que a quintessência não é

É importante diferenciar:

  • Não é perfeccionismo: buscar quintessência não significa nunca publicar, esperando o texto “ideal”.

  • Não é ornamento excessivo: o excesso de metáforas, adjetivos ou recursos estilísticos pode afastar em vez de aproximar.

  • Não é imitação: reproduzir fórmulas pode gerar textos corretos, mas sem vida.

A quintessência está no equilíbrio entre forma e conteúdo, clareza e intensidade, simplicidade e profundidade.


O papel do leitor

Se a quintessência da alquimia era invisível, a da escrita também pode ser ajustável, adequada. Ela só existe plenamente na relação com o leitor.

Um texto pode ser tecnicamente perfeito, mas se não gera eco, não se torna quintessência. Da mesma forma, um texto simples pode carregar algo que permanece na memória por anos.

É no encontro entre escrita e leitura que a essência se revela.


Escrita criativa e quintessência: caminhos práticos

Para escritores iniciantes, a busca pela quintessência pode parecer abstrata. Mas alguns exercícios ajudam a aproximar-se dela:

  1. Reescrita radical: reescreva um texto em três versões — uma minimalista, uma poética, uma objetiva. Compare o que permanece em todas: aí está o núcleo.

  2. Leitura consciente: escolha um autor que admire. Substitua a palavra “estilo” por “quintessência”. O que nele é impossível repetir?

  3. Cortes sucessivos: escreva um parágrafo de 100 palavras. Corte até restarem 50. Depois 25. Depois 10. O que continua expressando o essencial?

  4. Testemunho do leitor: peça a alguém que leia seu texto e diga o que ficou. O que foi lembrado? O que reverberou? Esse pode ser o núcleo.

Esses exercícios mostram que a quintessência não é abstrata: é o que sobra quando retiramos o supérfluo.


A quintessência no copydesk e na mentoria

Para quem acompanha escritores — seja como editor, mentor ou copydesk —, a busca pela quintessência é parte do trabalho.

No copydesk, a pergunta é: o que este texto quer dizer em sua forma mais pura?
Na mentoria, a pergunta é: qual é a voz autêntica deste autor e como ajudá-lo a alcançá-la?

Em ambos os casos, o papel não é impor, mas revelar. Não é adicionar camadas, mas retirar obstáculos.


Conclusão: escrever é destilar

A quintessência da escrita não está na primeira versão, mas no processo. Escrever é destilar: cortar, revisar, recompor, até que reste aquilo que carrega força, clareza e beleza.

Para cada autor, a quintessência será diferente. Mas todos podem alcançá-la ao se comprometer com o trabalho paciente da escrita criativa e da revisão.

🌿 Assim como os alquimistas buscavam a substância incorruptível, o escritor busca sua voz essencial.
A quintessência da escrita é o que permanece quando a palavra atinge seu grau mais puro.




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