Pela Fresta Te Vi – Relatos Em Dois Tempos
Cesar de Mello Campos
Sinopse
Cesar de Mello Campos, em "Pela fresta te vi - Relatos em dois tempos", oferece ao leitor uma jornada literária de rara profundidade.
Estruturado em duas partes que dialogam entre si, o livro traça um painel
multifacetado da experiência humana, revelando as vozes íntimas de personagens
que oscilam entre a força e a fragilidade, a memória e o esquecimento, o
silêncio e a palavra. Com uma escrita marcada por ritmos fluídos e uma prosa
quase poética, o autor constrói um universo onde o banal se transforma em
transcendência, e os detalhes cotidianos tornam-se fragmentos de uma realidade
maior.
Na primeira parte, os narradores
conduzem o leitor por memórias e reflexões de um mundo interno pulsante,
frequentemente desconfortável, mas sempre cativante. As narrativas se
entrelaçam em uma teia de contradições, onde a voz que se confessa é ao mesmo tempo
o espelho de um coletivo que observa e julga. Já na segunda parte, a
materialidade do mundo exterior ganha destaque, explorando relações e dilemas
que desafiam os limites da ética, da lealdade e do amor. Cada texto é um
microcosmo que reflete o todo, criando uma obra polifônica e profundamente
meditativa.
Cesar de Mello Campos apresenta
uma literatura que ultrapassa a experiência de leitura convencional, um texto
que exige do leitor não apenas atenção, mas uma entrega emocional e
intelectual. Pela Fresta, Te Vi é um convite ao diálogo com o invisível, com as
verdades ocultas nas frestas das nossas próprias vidas. Uma obra que ecoa as
grandes tradições da alta literatura, ao mesmo tempo em que carrega a
originalidade de uma voz inconfundível.
O livro é composto por 21 contos, conheça aqui a resenha de cada um deles.
Pela Fresta Te Vi – Relatos em Dois Tempos
Primeira parte
Não
Se ele quisesse algo, quando ainda era bem novo, e levava um sonoro “não”, isso não lhe importava, nunca lhe assombrava. Ele estirava as cordas até onde conseguisse, ainda que depois mal lembrassem dele. Segundo ele, é despropositado sentir medo, o mais interessante é que sintam medo dele. O que me importa é o que ele é, no que ele conseguiu se tornar; ele é único, impactante, indiscutível. Não se deixa abalar por nada e nem ninguém – além disso, sempre consegue o controle absoluto, não importa as consequências.
Primeiros
“Primeiros” mergulha na perspectiva de uma criança que observa o cotidiano com olhos curiosos, ora incomodada ao depender da mãe, ora maravilhada por poder comer pão de queijo sem precisar de nada além de sua própria vontade. A chegada de um irmão mais novo bagunça a rotina e destaca o amadurecimento forçado do protagonista, que se sente ora relegado, ora acolhido pelos pais. A narrativa expõe, com ternura, a complexidade de crescer, enfrentar inseguranças e descobrir que cada momento simples carrega um universo de emoções.
Certo
É um conto que disseca a obsessão pela perfeição humana e a rigidez moral, mostrando como esses ideais podem se tornar opressores, manipuladores e contraditórios.
Por meio de um narrador introspectivo e detalhista, a narrativa revela um personagem que, ao tentar ser irrepreensível, se torna refém de suas convicções e de uma figura misteriosa que dita seu comportamento (e talvez, nas entrelinhas, tem uma relação de amor, medo e ódio com ela). Uma reflexão profunda e poderosa sobre a moralidade, a liberdade e as influências que moldam nossas escolhas.
Aqui você verá o que há por trás da mente do “aparente” de algumas pessoas que se dizem “politicamente corretas”.
Eu me perdi
Trata de um mergulho na mente de um protagonista que equilibra afeto familiar e descrença no sucesso mundano, tão comum nos dias atuais. O texto cria uma atmosfera de reflexão íntima, expondo as inseguranças e esperanças de alguém que busca, na rotina solitária e no amor pelos filhos, uma forma de se reencontrar e se reencaixar. A narrativa convida o leitor a repensar e a olhar sob outras perspectivas as pressões sociais, a importância de pequenas alegrias cotidianas e o contraste entre as ambições do passado e a serenidade desejada no presente.
Deus me perdoe
O salto alto, que já é como uma extensão dos seus pés, a machuca, mas ela nem se importa muito, afinal, é de marca. Mentira, ela se importa, sim, afinal, pagou caríssimo pelo par de calçado. Em “Deus me perdoe”, a protagonista exibe uma vida de luxo e excessos enquanto administra ressentimentos e desejos conflitantes. Ela quer manter Artur, seu marido, totalmente sob seu controle, ao mesmo tempo em que despreza os filhos dele e até ignora a própria filha. Suas idas ao shopping, o desprezo pelos funcionários e os jantares opulentos simbolizam um vazio pessoal que ela tenta preencher com poder e ostentação.
O conto revela as tensões familiares que emergem a cada encontro, expondo a obsessão da narradora por status e a forte necessidade de aprovação que esconde sua insegurança. Entre olhares de reprovação, ameaças veladas e momentos íntimos carregados de interesse, ela demonstra uma certa culpa — expressa no pedido de perdão divino —, mas que, na prática, pouco altera sua conduta manipuladora. Assim, “Deus me perdoe” mergulha na complexa psique de alguém que subverte laços afetivos em prol de conquistas materiais.
Choveu
É um relato poético e introspectivo de alguém que transita entre a arte e as exigências práticas do dia a dia. O protagonista, ao mesmo tempo solitário e cercado de pequenos apoios, revela como a música funciona como fonte de energia em meio às incertezas. A narrativa em fluxo de consciência convida o leitor a refletir sobre o peso das escolhas e a dureza da vida artística, por outro lado uma recusa de aceitar o passar dos anos, oferecendo uma leitura sensível que alterna momentos de desalento e sutil esperança.
Eu, minha você
Retrata o cotidiano de um homem que, após perder a esposa, vive cada manhã imerso em lembranças. O texto explora como a velhice agrava a sensação de solidão, deixando claro que o amor compartilhado se mantém na memória, apesar da distância irreversível entre os dois.
Quem saberá
É um conto envolvente que captura a essência do pensamento corrido e mergulha no íntimo de um sacerdote em constante luta entre a santidade e a humanidade. A narrativa, rica em sensações e reflexões, explora temas como vocação, tentação e o peso das responsabilidades espirituais. A escrita, profundamente sensorial, transporta o leitor para o ambiente da paróquia, onde a quentura dos corpos e o murmúrio das orações contrastam com o frio externo e as inquietações internas do protagonista.
O autor oferece uma visão complexa e intimista do que significa carregar o fardo da fé. O conto não apenas humaniza o sacerdote, mas também nos faz refletir sobre a dualidade de viver entre o sagrado e o mundano. Uma leitura densa e instigante, ideal para quem aprecia narrativas introspectivas e reflexivas.
Roupa que cai
Poderia ter sido um dia comum, mas não foi. "Roupa que cai" é um conto que explora com maestria a mente fragmentada de um homem que vive à margem das urgências modernas. Narrado em fluxo de pensamento, o texto mistura reflexões cotidianas com reações sensoriais, criando um retrato sensível e, por vezes, melancólico de sua existência. A virada narrativa – uma traição inesperada – adiciona profundidade à história, revelando como as pequenas e grandes tragédias da vida podem coexistir no mesmo espaço emocional. E agora? O que será do filho pequeno do protagonista?
Com uma escrita densa e detalhista, o conto é um convite ao leitor para mergulhar na complexidade do ser humano, onde o banal e o sublime se encontram.
Assim, se me vai
É um mergulho sensorial e filosófico na mente de um médico que, ao longo de suas reflexões, revela as dores e as belezas de sua profissão. O texto é narrado em um fluxo de pensamento contínuo, carregado de descrições poéticas que transportam o leitor para o âmago das emoções do protagonista. O conto explora temas como o peso das escolhas, a efemeridade da vida e a dificuldade de se manter empático em meio a um cotidiano que desgasta.
As situações apresentadas, desde os diálogos com pacientes até os momentos de introspecção solitária, são carregadas de simbolismos e toques sensoriais – o cheiro de chá, a visão de um ônibus verde, o silêncio carregado de significado. A escrita, que flui como um pensamento contínuo e intenso, captura com precisão a luta entre a racionalidade e a vulnerabilidade humana. Uma leitura que provoca introspecção e desafia o leitor a encarar suas próprias paciências que se vão.
Sobrevoo
É uma imersão sensorial e emocional na psique de uma protagonista multifacetada. Entre reflexões sobre poder, beleza e as armadilhas da vida moderna, o conto destaca a busca por autenticidade em meio a papéis sociais sufocantes. A narrativa envolve o leitor com descrições que despertam os sentidos, como o impacto de um simples sabor de sorvete que transcende o cotidiano, oferecendo momentos de pausa, introspecção e autenticidade pessoal.
Com toques sutis de ironia e uma abordagem profundamente humana, "Sobrevoo" nos faz questionar as escolhas que moldam nossa identidade e a fragilidade de nossos desejos reprimidos. Este conto é uma obra que convida à contemplação e oferece um retrato sensível das complexidades de um ser que determinou que sua vida, sim ou sim, será incomparável.
Pela Fresta Te Vi - Relatos em Dois TemposSegunda parte
Lutar ou fugir
É um conto visceral que transporta o leitor para o núcleo de uma tragédia familiar, explorando os limites do enfrentamento humano à dor. Através de descrições intensas e profundamente sensoriais, a narrativa revela a luta interna de um homem que se refugia em uma realidade ilusória para escapar da culpa e da perda de seu filho. Enquanto isso, sua mulher, marcada pelo luto genuíno, carrega a dura tarefa de lidar com a realidade e as consequências do silêncio e da ausência emocional do marido.
O conto mergulha em questões universais, como o confronto com a mortalidade e a fragilidade das relações humanas. A escrita poética e envolvente de César de Mello Campos captura as nuances da alma humana em momentos de colapso, provocando no leitor uma reflexão inquietante sobre coragem, covardia e o significado do amor nos momentos mais difíceis.
Importância
A narrativa disseca a superficialidade de uma vida focada apenas no prazer e na autopreservação. O protagonista é apresentado como alguém que se considera inabalável, mas um pequeno acidente catalisa uma sequência de eventos internos que desconstroem sua aparente fortaleza emocional. A narrativa, permeada por descrições sensoriais, alterna entre os cheiros úmidos da rua e a frieza das máquinas, enquanto a tensão psicológica cresce.
Com uma escrita que combina fluxo de pensamento e crítica social, o autor nos conduz por um mergulho na psique de um personagem que, embora busque evitar responsabilidade e conexões profundas, não consegue escapar das rachaduras em sua armadura emocional. É um convite para refletir sobre a fragilidade escondida sob a carapaça da autossuficiência.
Desfazimento
O texto ressoa pela profundidade emocional e pelas camadas sensoriais habilmente tecidas em sua narrativa. César de Mello Campos constrói uma atmosfera íntima, onde o frio do ambiente hospitalar, os ruídos intermitentes e os cheiros evanescentes criam uma paisagem emocional que reflete a jornada interna do protagonista. A história explora o ato de "desfazer-se" não apenas de objetos, mas também de expectativas, ressentimentos e medos, enquanto se conecta ao reencontro tardio e poderoso com o filho e à presença vigilante da esposa.
Com uma escrita poética e introspectiva, o conto captura a essência da mortalidade e a complexidade das relações humanas. É uma obra que inspira a contemplação sobre os ciclos da vida, mostrando que mesmo os momentos mais frágeis podem ser permeados de beleza e significado. A sutileza com que o autor conduz a narrativa convida o leitor a refletir sobre o que realmente importa no desfecho de nossas histórias.
Folha caída
Em "Folha Caída", o autor revela com maestria os detalhes da alma humana em um conto que combina introspecção e lirismo. A história acompanha uma mulher idosa enquanto ela reflete sobre os ciclos de sua vida – as alegrias compartilhadas, os deslizes ocultos e as tensões do cotidiano. A simplicidade de um gesto, como acariciar os cabelos do marido, serve de porta para um turbilhão de memórias, iluminando as contradições e ressignificações que moldam sua trajetória.
A narrativa prende o leitor pela sutileza de seus elementos sensoriais – os toques, os cheiros e os sons que embalam as lembranças – e pela universalidade de suas questões: amor, arrependimento, resiliência. Quando o filho retorna, quebrando o silêncio com um telefonema, a narrativa encontra sua redenção, ao mostrar como pequenas ações podem dissolver anos de ressentimentos e reafirmar o vínculo familiar. Uma obra de rara sensibilidade, "Folha Caída" emociona por sua verdade e simplicidade.
Desinfecção
É um conto poético que explora as sombras e as luzes da alma humana em momentos de despedida. O autor pinta um retrato íntimo de um "Padre" que, cercado por simbolismos cotidianos como a pipa que dança no horizonte ou o olhar aflito de sua mãe, enfrenta sua vulnerabilidade com uma resignação melancólica, mas esperançosa.
Com descrições que despertam os sentidos e diálogos internos que ecoam em quem lê, a narrativa nos convida a refletir sobre os pesos que carregamos e as despedidas que nos transformam. A mistura de cenas cotidianas e reflexões profundas faz do conto uma experiência sensorial e emocional que ressoa mesmo após a última linha.
Arrasadura
Ambientado em um hospital, a narrativa acompanha os pensamentos fragmentados e sensações físicas de uma mulher em seus momentos finais, oferecendo ao leitor uma experiência sensorial e introspectiva. A relação entre a protagonista e Rafael, um jovem que equilibra juventude e desencanto, é o fio condutor que conecta os temas de amor, perda e aceitação.
Com uma escrita lírica e visualmente evocativa, o conto transporta o leitor para o silêncio das emoções não ditas e os sons das máquinas que acompanham a protagonista em sua última jornada. "Arrasadura" é uma obra que reverbera com uma melancolia suave, capturando a essência da fragilidade humana e a beleza contida nos detalhes mais simples da vida e da morte.
Calisto
O protagonista, moldado por idealismos e frustrações, vive a tensão entre sua essência simples e o mundo complexo de relações humanas que nunca pôde compreender inteiramente. A ambientação rica – do cheiro de lenha queimada às jabuticabas consumidas no isolamento – transporta o leitor para um universo onde cada detalhe revela a profundidade dos sentimentos do personagem.
Com maestria, o autor captura a natureza cíclica das lutas internas, representadas por uma luta física quase ritualística, que simboliza a tentativa desesperada de reconciliar o passado e o presente. O texto equilibra sutileza e intensidade, revelando camadas de significado em cada cena. "Calisto" é uma reflexão pungente sobre solidão, arrependimento e os paradoxos do autoconhecimento, que promete ressoar com leitores atentos às nuances da experiência humana.
E fez sol
A narrativa acompanha um homem que, ao lidar com a morte de sua mãe, enfrenta não apenas o vazio deixado por ela, mas também reflexões profundas sobre si mesmo e suas relações. Com uma escrita que combina leveza e melancolia, o autor captura momentos de aparente simplicidade — o som de um violão, o toque do sol sobre a madeira gasta — e os transforma em metáforas poéticas sobre a transitoriedade da vida e a possibilidade de renovação.
A presença de Juliana na história funciona como um contraponto luminoso, trazendo equilíbrio e suavidade à dor do protagonista. Seu dedilhado despretensioso no violão reflete a própria essência do conto: uma beleza que surge entre o desassossego e a serenidade. Repleto de camadas sensoriais, "E fez sol" convida o leitor a contemplar os pequenos gestos que, como raios de sol, aquecem até os momentos mais frios da existência.
Espelho
É um conto que mergulha profundamente na complexidade da psique humana, explorando as nuances de desejo, culpa e renascimento. Narrado com uma intensidade sensorial e emocional única, ele desenha uma protagonista que flutua entre a certeza de suas escolhas e a dúvida corrosiva que vem com o tempo. A história é um retrato da decadência e busca de sentido, onde a casa vazia e os arranjos de flores frescas tornam-se metáforas para o vazio interior e os ecos de uma vida passada.
A narrativa encanta pela profundidade com que aborda temas como a autenticidade, o luto e a necessidade de redenção, convidando o leitor a refletir sobre a linha tênue entre o controle e o abandono. É uma obra para ser lida com calma, absorvendo as sutilezas de uma escrita que transforma o comum em extraordinário.
Ainda estou aqui
No conto "Ainda Estou Aqui", Cesar de Mello Campos constrói um retrato visceral e melancólico da degradação humana em um espaço confinado. A narrativa, conduzida por um observador enigmático, revela o cotidiano de um homem esquecido e aprisionado, cujas convicções inflexíveis se transformam em um fardo pessoal. Por meio de descrições sensoriais intensas, como a sujeira que pesa e a claridade que hesita em iluminar, o conto explora os efeitos da tortura física e psicológica, a erosão da identidade e a força contraditória da solidão.
A jornada do protagonista é marcada pela tensão entre a perda e a transformação, confronto com os resultados de seu narcisismo e prepotência. O ambiente claustrofóbico e as experiências de violência revelam tanto a resistência quanto as fragilidades do espírito humano. O conto deixa o leitor entre ecos de esperança e resignação, culminando em uma libertação simbólica, onde o peso da culpa e da memória confronta a possibilidade de recomeço. A prosa de Campos envolve, sutilmente, o leitor em reflexões sobre a natureza da verdade, a inflexibilidade das convicções e a resiliência da condição humana.
Para a compra do exemplar impresso (226 páginas) da obra "Pela Fresta Te Vi – Relatos Em Dois Tempos", entre em contato via e-mail:
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