Entre a razão e o imaginário: quando o pensamento racional e a sutileza se unem e viabilizam sonhos, perspectivas, projetos
Entre o sacro e o sagrado: distinções necessárias
O ser humano vive imerso em tensões simbólicas. Uma delas é a diferença entre sacro e sagrado. O sacro é a categoria que separa o que pertence a outra ordem daquilo que é profano. É conceito, estrutura, limite. O sagrado, ao contrário, é experiência: aquilo que nos toca, que provoca reverência, temor ou encantamento. O sacro é a moldura; o sagrado, a pintura viva.
De forma semelhante, confundimos com frequência racionalidade e racionalismo. A racionalidade é faculdade humana: a capacidade de pensar, calcular, organizar, agir com coerência. O racionalismo, por sua vez, é uma doutrina filosófica que elege a razão como instância suprema de conhecimento (Descartes, Spinoza, Leibniz). Ou seja, todos podemos exercer racionalidade em algum grau, mas nem todos aderimos ao racionalismo como visão de mundo.
Outro par que se entrelaça é o de espiritualidade e religião. A espiritualidade é vivência interior, subjetiva, ligada ao sentido e à transcendência. A religião é forma social, institucionalizada, com dogmas, rituais, hierarquia e comunidade. Pode-se ser espiritual sem ser religioso; pode-se seguir uma religião sem vivenciar uma espiritualidade profunda.
Essas distinções não são meramente acadêmicas: ajudam a perceber os modos pelos quais interpretamos e nos relacionamos com a realidade.
O sagrado na lareira de Vesta e a razão de Atena
As mitologias greco-romanas oferecem figuras que personificam essas forças.
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Atena/Minerva: deusa da sabedoria prática, da inteligência estratégica, da razão lúcida.
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Apolo: deus da luz, da harmonia, da medida, contraponto à embriaguez dionisíaca.
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Hermes/Mercúrio: mensageiro, patrono da comunicação e da astúcia racional.
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Zeus/Júpiter: guardião da ordem cósmica, da lei que sustenta o equilíbrio.
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Héstia/Vesta: guardiã do fogo sagrado da lareira, símbolo da coesão e da continuidade.
Nessas imagens, vemos como os antigos já buscavam equilibrar razão e sensibilidade, ordem e fervor, lei e imaginação. Héstia/Vesta, com sua chama invisível mas essencial, lembra que o sagrado não está apenas nos grandes feitos, mas na manutenção silenciosa da vida. Atena mostra que a sabedoria estratégica também é indispensável para o bem comum.
Quando a razão se engessa
A razão é uma força vital: clareia, organiza, protege do caos. Mas quando se engessa, cai-se em um sedentarismo energético-psíquico-espiritual.
Assim como um corpo imobilizado perde flexibilidade, também a mente que se fixa apenas no cálculo se torna rígida. O excesso de racionalismo não apenas restringe a imaginação: engessa o acesso ao sagrado, bloqueia o criativo e empobrece o espiritual.
O gesso, contudo, não é definitivo. Ele pode ser dissolvido pela água da sensibilidade, quebrado pelo impacto de novas experiências ou removido pelo exercício consciente. A imagem é potente porque sugere que aquilo que endurece também pode ser transformado.
O imaginário: motor invisível da humanidade
Segundo Laplantine e Trindade, o imaginário é o tecido em que imagens, símbolos e narrativas se entrelaçam
Ele não é mero devaneio, mas um campo criador que se projeta no futuro e reinterpreta o presente.
Yuval Harari, em Sapiens, mostra que nossa espécie prosperou porque soube inventar ficções coletivas: deuses, nações, direitos, empresas
Portanto, longe de ser uma fuga, o imaginário é instrumento de sobrevivência e transformação. É nele que germinam as ideias que mais tarde se consolidam em ciência, política, arte e religião.
Tipos de imaginário
O imaginário pode ser observado em diferentes camadas:
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Individual: sonhos, memórias, fantasias pessoais.
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Coletivo: mitos, tradições, narrativas partilhadas.
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Arquetípico: padrões universais como herói, sombra, mãe, trickster.
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Tecnológico/utópico: visões de futuro, ficções científicas, utopias e distopias.
Conhecê-los é crucial: quem ignora o próprio imaginário pode ser dominado por imagens invisíveis que moldam comportamentos sem consciência.
O simbólico: linguagem que atravessa
Se o imaginário é o campo fértil, o simbólico é a linguagem que o atravessa. O símbolo não se reduz a um signo: ele mobiliza afetos, contém uma pluralidade de sentidos, conecta visível e invisível.
A cruz não é apenas um objeto: é presença de Cristo para aquele que crê. O espelho de Oxun não é apenas reflexo: é manifestação divina. O símbolo, como lembram Laplantine e Trindade, tem eficácia porque mobiliza emoções, legitima instituições, orienta ações
Sem símbolos, a vida social perde densidade.
Ciência e imaginário: uma aliança improvável
À primeira vista, ciência e imaginário parecem opostos. Mas toda ciência começa com uma imagem, uma hipótese, um “e se...?”.
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Kepler sonhou com viagens lunares antes de formular suas leis.
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Einstein imaginou cavalgar em cima de um raio de luz.
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Watson e Crick montaram modelos de arame e papelão para visualizar o DNA.
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Júlio Verne inspirou engenheiros de submarinos e astronautas.
A ciência valida, mas é a imaginação que cria. Um sem o outro é estéril.
E mais: não é porque algo não foi visto, medido ou explicado pela ciência em determinado momento que ele inexiste. A história está repleta de realidades sutis ou invisíveis que só depois se tornaram compreensíveis. Se em 1900 alguém falasse de partículas como o neutrino, teria sido motivo de riso ou descrença — afinal, não era possível sequer imaginar algo tão esquivo. Hoje, o neutrino é central para entendermos o universo. Isso mostra que o imaginário não é apenas invenção: é também um antecipador de realidades que mais tarde podem ser comprovadas. O invisível de ontem pode ser a evidência de amanhã.
Arte e criatividade: guardiãs da vida humana
A arte dá forma ao indizível, reorganiza afetos, resiste ao automatismo. Criar não é luxo, é necessidade.
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Expressão: traduz o que escapa à linguagem comum.
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Cura: atua como reorganização simbólica e terapêutica.
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Expansão: amplia percepções, abre novas maneiras de ver.
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Resistência: questiona, subverte, rompe silêncios.
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Humanização: lembra que somos seres de sentido, não apenas de sobrevivência.
Sem criatividade, a vida torna-se repetição sem alma.
O olhar crítico: vieses e falácias
É importante reconhecer os vieses que rondam esse tema:
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Viés de confirmação: só buscar exemplos que reforçam a ideia de que o imaginário é sempre positivo.
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Idealização romântica: esquecer que o imaginário também pode gerar fanatismos, preconceitos, alienações.
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Falácia da composição: generalizar experiências individuais como se fossem universais.
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Apelo à consequência: afirmar que “sem imaginário não há futuro” como argumento definitivo, quando é mais reflexão do que prova.
Reconhecer essas limitações não invalida a importância do imaginário e do simbólico; apenas os coloca em perspectiva crítica.
Conclusão: escrita como mobilidade interior
Entre razão e imaginação, entre o sagrado e o racional, entre o simbólico e o científico, o humano se move em tensão criativa.
Se apenas racionalizamos, corremos o risco de engessar nossa psique, cair em um sedentarismo energético-psíquico-espiritual que nos afasta da criatividade e do espiritual. Se apenas fantasiamos, perdemos ancoragem na realidade.
Escrever exige justamente esse equilíbrio: clareza racional e mobilidade imaginária. É exercício de travessia, não de imobilidade. É manter a chama de Vesta acesa enquanto Atena sopra discernimento. Assim, a escrita deixa de ser um gesto técnico e se torna experiência vital.
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