Deusas e Deuses da Escrita
Dicas de escrita criativa para escritores/as iniciantes
Talvez você já tenha se perguntado:
"Como surgiu a primeira narrativa? Por quê?"
A necessidade de contar histórias é inerente aos seres humanos, uma vez que as narrativas nos ajudam a compreender o mundo e a criar um sentido para nossa existência.
Desde os primórdios, os seres humanos buscaram explicar os mistérios da vida, do universo e dos fenômenos naturais através de histórias míticas, que também serviam para transmitir regras de convivência e modos de sobreviver.
Muito antes de a filosofia surgir como um campo de pensamento sistemático, a mitologia já existia como uma forma de organizar a experiência humana, oferecendo explicações sobre o mundo por meio de símbolos e deuses que representavam forças da natureza e aspectos da vida.
A mitologia pode ser considerada uma fase pré-filosófica, pois era uma forma de responder às grandes questões da humanidade, como a origem da vida, os relacionamentos afetivos, o desenvolvimento humano, o sentido da morte e os mistérios do cosmos, antes do surgimento do pensamento racional.
Os mitos forneciam um mapa para viver, ao descrever não apenas as regras de sobrevivência, mas também os valores socioculturais e as emoções humanas. Eles permitiam que as pessoas, em tempos antigos, compartilhassem uma visão de mundo e encontrassem um propósito coletivo, conectando-se através das histórias e transmitindo-as de geração em geração. Essa tradição narrativa ancestral é, portanto, a base do que hoje conhecemos como literatura, perpetuando a necessidade humana de escrever, contar e ouvir histórias.
E talvez (novamente) você esteja se perguntando:
"Por que o título é 'Deusas e Deuses da Escrita'?"
Dou preferência ao feminino, por um motivo simples: estima-se que 51% da população mundial é composta por mulheres e 49% por homens; e, de forma inegável, 100% de todas as pessoas existentes no Planeta Terra vieram de uma mulher.
Esse reconhecimento da força criadora feminina reflete também a importância da inspiração, da assimilação da sabedoria e da intuição, que as figuras femininas mitológicas trazem para a escrita.
As deusas representam a nutrição do ser humano, e do imaginário, o acolhimento das histórias e a força transformadora das palavras. Por isso, dar destaque às "deusas" antes dos "deuses" na escrita é uma forma de homenagear essa potência que origina e nutre a vida e as narrativas. Em seguida, comentarei aqui, logo abaixo, os deuses da escrita :)
Íris
Íris, na mitologia grega, é a deusa do arco-íris e a mensageira dos deuses, especialmente de Zeus e Hera. Ela transita entre o Olimpo e a Terra, carregando mensagens com a mesma leveza e beleza de um arco-íris, que une céu e terra em uma ponte de cores. Filha de Taumante ("maravilhas") e Electra ("âmbar, mulher radiante"); é casada com Zéfiro, o senhor dos ventos.
Íris simboliza a comunicação clara e inspirada, que conecta mundos diferentes, uma qualidade essencial para a escrita.
Seu mito nos lembra que a escrita tem o poder de criar pontes entre o autor e o leitor, permitindo que ideias, emoções e visões sejam transmitidas de forma fluida e vibrante, como um arco-íris que atravessa o céu.
Para escritores iniciantes, Íris nos ensina a importância de transmitir a essência de uma história com leveza e clareza.
Assim como suas mensagens eram entregues de forma rápida e precisa, o escritor deve buscar a simplicidade e a eficácia na linguagem, evitando complicações desnecessárias.
Um bom exercício é praticar a escrita de pequenos textos, como minicontos, que exigem concisão e foco; ou mesmo crônicas. Além disso, a deusa Íris nos inspira a explorar as diferentes "cores" da linguagem — metáforas, sensações, visões, ponderações, observações, costumes — para que a escrita ganhe vivacidade e seja capaz de encantar o leitor, tal como um arco-íris encanta quem o vê.
Musas
Na mitologia grega, as nove Musas (que etimologicamente significa "aprender, fixar-se numa ideia artística e é da mesma família de música e museu) são deusas das artes, como música, dança e poesia, dotadas de talentos artísticos excepcionais, beleza e graça. As Musas presidem o pensamento fomentando nos deuses e deusas, e nos humanos, a sabedoria, eloquência, persuasão, história, matemática, astronomia.
Elas inspiram músicos e escritores a superar desafios criativos e oferecem entretenimento que alivia as preocupações dos deuses e da humanidade. Filhas de Zeus e Mnemosine (a deusa da Memória), nasceram após nove noites consecutivas de união entre eles.
Cada uma das Musas representa simbolicamente um campo artístico específico: Calíope (poesia épica e retórica), Clio (história) – sendo que ela também representa a fama, Erato (canto), Euterpe (poesia lírica), Melpomene (tragédia), Polímnia (hinos), Terpsícore (dança), Tália (comédia) e Urânia (astronomia). Elas são frequentemente retratadas com objetos que simbolizam seus talentos, como a tabuleta de Calíope e a flauta de Euterpe.
Acima, na imagem (criada por IA) selecionei 4 delas, porque é o nosso foco de interesse na escrita: Calíope: poesia épica, Clio: historiadora; Melpômene: tragédia; Tália: comédia.
Curiosamente, os pais das Musas são Mnemosine, a personificação da memória, e Zeus (Júpiter), o senhor da fertilidade, dispensador de bens e do poder criador. Isso nos faz refletir: o que seríamos, enquanto humanidade, sem a memória que preserva nossas histórias e a fertilidade que nos permite criar, transformar, evoluir e compartilhar? Uma curiosidade: as Musas, por vezes, fazem parte do cortejo de Afrodite - deusa do amor. E qual o diferencial, a pitada de brilho que devemos concluir? Será possível escrever longe do amor, do coração?
A Deusa Aranha
Segundo a tradição do povo nativo de pele vermelha da América do Norte, a Aranha (e a divindade que carrega em si) trouxe aos seres humanos a pré-configuração do alfabeto; ela usou os ângulos da sua teia para ajudar a humanidade a desenhar as letras/símbolos. Qual o seu objetivo? Doar como herança a arte de aprender a registar memórias e os progressos, porque ela entendeu que os seres humanos estavam a cada dia mais complexos e, para tanto, somente a escrita para perpetuar o conhecimento adquirido.
Seshat
Seshat, também conhecida como Sexate ou Seshet, era uma deusa da mitologia egípcia originária da região do Delta do Nilo. Ela era associada à escrita, à astronomia, à arquitetura e à matemática. Alguns especialistas acreditam que ela teria descoberto a escrita. O nome Seshat significa "a que escreve", e ela também era reverenciada com os títulos de "Senhora dos Livros", "A Dona da Casa dos Livros", e "Senhora dos Construtores".
Com seus atributos, ela nos lança a um campo mais vasto sobre a escrita e literatura, nas entrelinhas ela nos ensina que para escrever, é preciso planejar (arquitetura). Para escritores iniciantes, a mensagem desta importante deusa sumeriana é que, embora a criatividade seja essencial, é igualmente importante dominar as técnicas e estruturas da escrita, de modo que a inspiração possa ganhar forma e se expressar de forma clara e duradoura.
Seshat era representada como uma mulher vestida com uma pele de um felino malhado, uma vestimenta tradicionalmente usada pelos sacerdotes nos ritos funerários. Sobre sua cabeça, carregava um objeto apoiado em uma folha, que simboliza provavelmente o papiro — um suporte de escrita muito utilizado na antiguidade e um dos principais produtos de exportação do Egito. Em suas mãos, Seshat segurava um caule de palmeira, os instrumentos essenciais dos escribas em seu trabalho de registrar valores e recursos (animais, cereais, tecidos), bem como conhecimentos e histórias.
Nisaba
Nisaba, a deusa mesopotâmica da escrita e dos grãos, é uma das divindades sumérias mais antigas registradas na história. ela é filha de Unas (Terra) e de Anu (Céu). Seu culto permaneceu importante ao longo dos períodos da Mesopotâmia, sendo especialmente venerada pelos escribas, que frequentemente encerravam seus textos com a doxologia (fórmula litúrgica de arremate nas grandes orações): "louvor a Nisaba" em sua honra. Possuía um grande prestígio; era escriba das deusas e deuses; guardiã relatos divinos, dos imortais e mortais.
Conhecida por epítetos como "senhora da sabedoria", "professora de grande sabedoria", "supervisora insuperável" e "abridora da boca dos grandes deuses", Nisaba simbolizava não apenas o conhecimento, mas também a arte de transmitir esse saber aos outros. Acreditava-se também que o direito dos escribas de ensinar aos outros sua arte lhes era concedido por ela.
Hermes
Filho de Zeus (fertilizador, dispensador de bens) e Maia (ilusão), Hermes, na mitologia grega, é o deus da comunicação, das estradas, da eloquência e dos mensageiros. Conhecido por sua astúcia e habilidade de se deslocar rapidamente entre os mundos, Hermes é o mensageiro dos deuses, transitando entre o Olimpo, a terra e o submundo.
Ele é também considerado o patrono dos escritores, oradores, comerciantes e até dos ladrões, pela sua versatilidade e capacidade de adaptação. A figura de Hermes carrega o poder das palavras e da troca de informações, capacidade de negociação; articulação; lucidez; e persuasão.
Mercúrio
Mercúrio é a versão romana de Hermes e, provavelmente, Hermes deve ter sido sincretizado (e importado) do inesquecível Deus Thot: deus da sabedoria; inventor do hieróglifos; senhor da magia, sabedor do conhecimento oculto, esoterismo; aquele que sabe medir o tempo (real, das estações do ano, e do tempo imaginário); intermediário (também) entre os humanos e os deuses; escritor dos deuses.
Thoth parece ser uma divindade mais séria, sóbria; enquanto que Hermes e Mercúrio são mais joviais – se preciso for para salvar sua pele ou tirar alguma vantagem, irão blefar, mentirão; serão embusteiros, fofoqueiros, falsos, dissimulados.
Thot
Ganesha
Por que Ganesha tem uma de suas presas quebrada?
Ganesha o escrivão
Há tanto o que aprender, repensar, interpretar sobre a Mitologia e a Escrita...
Certamente, existem mais deusas e deuses da escrita, mas não explorei tudo por aqui. Se o fizesse, isso se tornaria um pequeno livro online – e, além disso, quem teria paciência para ler uma publicação enorme?
Em resumo: as deusas e deuses nos oferecem um rico simbolismo que nos orienta na hora de escrever. Sempre penso neles e nelas no momento em que preciso escrever. Sim, a escrita é uma "ponte" entre nossa mente criativa e o computador/papel; é preciso ter eloquência, percepção apurada. Íris nos ensina sobre o encanto; Seshat, sobre o propósito; Thot, sobre a medida; e devemos estar além dos julgamentos e preconceitos.
São referências muito nítidas, através de Nebasi, que evidenciam que sempre estamos semeando pensamentos (para nós e para os leitores/as) ao escrever um livro.
As sandálias aladas de Hermes/Mercúrio estão à disposição para viajar para "diferentes mundos", e seu caduceu (duas cobras entrelaçadas) simboliza o controle ou a serenidade, assim como o empoderamento dos opostos.
Conforme Ganesha nos mostra, não há muitas soluções prontas; precisamos encontrar recursos dentro de nós mesmos e, a partir de nós, escrever.
Adaptáveis como são, tanto as deusas quanto os deuses nos enviam uma mensagem clara: na escrita, seja flexível.
E quem dirá que a escrita é diferente disso tudo?
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Fontes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Nisaba
https://en.wikipedia.org/wiki/Thoth
Junito Brandão, Mitologia grega, Volumes I, II, e III
Dicionário dos Símbolos, Alain Gheerbrant, Jean Chevalier
Imagens geradas por IA: Night Cafe
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