"Pela Fresta Te Vi – Relatos em Dois Tempos", de Cesar de Mello Campos, é um livro que se abre como uma janela entreaberta: não revela tudo de uma vez, mas convida o leitor a espiar, a sentir o vento que entra pela fresta, a pressentir o que está além do visível (porém, está no psíquico). É uma obra que se constrói na tensão entre o dito e o não dito, entre o que se mostra e o que se esconde, entre o que somos e o que poderíamos ter sido.
A Fresta como Metáfora
A "fresta" do título não é apenas uma abertura física, mas um espaço de ambiguidade, de dúvida, de revelação parcial. Cada conto, cada personagem, é uma fresta por onde espreitamos a complexidade humana: a crueldade e a ternura, a arrogância e a fragilidade, a certeza e o desamparo. Os relatos são como retratos tirados de um ângulo inesperado, onde a luz incide de forma a revelar sombras que, muitas vezes, preferiríamos ignorar.
Dois Tempos, Uma Só Alma
A divisão em "dois tempos" não é apenas estrutural, mas existencial. Há o tempo da infância, da descoberta, da ingenuidade que se perde; e há o tempo da idade adulta, das máscaras, das escolhas, resultados que nos definem e nos aprisionam. Em "Não", o narrador se apresenta como um ser formado pela negação, pela rejeição ao outro, pela certeza de sua própria superioridade; uma armadura que, no fundo, esconde o medo de não ser suficiente. Em "Primeiros", a voz é a de uma criança que ainda não sabe que o mundo é feito de perdas, que o amor dos pais é finito, que o brinquedo favorito um dia desaparecerá.
E assim, entre um tempo e outro, o livro nos pergunta: o que perdemos ao crescer? Não apenas a inocência, mas a capacidade de nos surpreendermos, de nos permitirmos ser frágeis, de aceitarmos que a vida é feita de frestas, e não de portas largas e seguras.
A Poética do Cotidiano
Cesar de Mello Campos escreve com uma linguagem que oscila entre o lírico e o cru, entre o poético e o prosaico. Há uma beleza nas pequenas coisas: no cheiro do café da manhã, no vento que bate no rosto durante um passeio de bicicleta, no gesto de uma mãe que cuida do filho. Mas há também a dureza do cotidiano: a solidão que se disfarça de independência, a raiva que se veste de orgulho, a tristeza que se camufla em ironia.
Os personagens são anti-heróis modernos: pais que não sabem amar, filhos que não sabem ser amados, mulheres que se perdem na busca por um amor que as complete, homens que se afogam na própria rigidez. São pessoas que, como nós, tentam se salvar da própria humanidade.
Filosofia da Imperfeição
O livro é uma meditação sobre a imperfeição como condição humana. Não há redenção fácil, não há finais felizes garantidos. Há apenas a vida, com suas frestas, suas rachaduras, suas janelas entreabertas. A pergunta que fica é: o que fazemos com o que vemos pela fresta? Fechamos os olhos? Tentamos abrir a porta à força? Ou aprendemos a viver com a luz que entra, e com a sombra que ela projeta?
Em "Deus me perdoe", a personagem feminina é uma mulher que se debate entre o desejo de posse e a consciência de que nada (nem mesmo o amor) é eternamente seu. Em "Eu me perdi", o narrador é um homem que se pergunta se ainda existe fora das máscaras que vestiu ao longo da vida. São todos seres em trânsito, que não encontraram ainda (e talvez nunca encontrem) um lugar seguro para pousar.
Por Que Ler Este Livro?
"Pela Fresta Te Vi" não é um livro para quem busca respostas. É um livro para quem ousa fazer perguntas: sobre si mesmo, sobre os outros, sobre o amor, a solidão, a passagem do tempo. É uma obra que incomoda, porque nos mostra que, muitas vezes, somos tão cegos quanto os personagens, e que, como eles, também vivemos à beira de um abismo, fingindo não ver.
Ler este livro é como olhar pela fresta de uma porta: você não vê tudo, mas vê o suficiente para saber que há algo além. E isso, por si só, já é uma revelação.
Trecho que fica: "Eu me perdi, mas ainda estou aqui. E estar aqui, mesmo perdido, é já uma forma de resistência."
Para quem é este livro?
- Para quem gosta de literatura que corta como uma faca — não pela violência, mas pela precisão.
- Para quem busca retratos humanos sem retoques, sem romantismos fáceis.
- Para quem acredita que a poesia está no cotidiano, mesmo quando o cotidiano é feio, difícil, contraditório.
Nota final: ★★★★★ (5/5) — Um livro que exige coragem do leitor, porque não oferece consolo fácil. Mas é justamente por isso que vale a pena: porque, ao final, você se sente menos sozinho na sua própria fresta.
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