Quando os Sons Adormeceram (Clene Salles)
Com a chegada inesperada da noite, estranhamente e de maneira involuntária, tudo adormeceu. Tudo.
Que sono tão profundo, pegajoso, arrastado...
Que transitoriedade seria aquela?
Na manhã seguinte, os sons da natureza, dos equipamentos e das vozes humanas desapareceram por completo.
O silêncio, imperioso e autoritário, tornou-se absoluto.
Confusos e inconformados, todos corriam de um lado para outro — inclusive os objetos.
Um lampião derrubado rolava pela rua como se fugisse de um perigo invisível – sonhava que o fogo corria atrás dele; cadeiras se arrastavam desajeitadas, tropeçando suas pernas umas nas outras, enquanto pequenos copos de vidro pensavam tilintar, mas apenas trincavam em si mesmos, num único ritmo – impossível saber o que celebravam. A própria bagagem de um viajante saltava entre as calçadas, como se buscasse um trem que jamais chegaria.
O artista, sentado no chão de terra, resiliente e, ainda assim, convicto, decidiu pintar. Cada pincelada parecia quebrar aquele tão surreal silêncio que insistia em permanecer. Aquilo era opressor. Suas mãos se moviam com uma liberdade quase desafiadora, ignorando a ausência de ruídos e o caos que os objetos provocavam ao seu redor.
Se nada poderia ser ouvido, nada deveria ser falado.
A garotinha, ali abandonada, encostada a poucos passos dali, observava aquele ambiente incompreensível com o queixo apoiado nos joelhos. Ela entendeu rápido que os sons haviam sumido. Seus olhos, perdidos entre a inevitável melancolia e uma curiosidade desconcertada, seguiram o movimento daquele pincel que criava uma pequena estrela em tons de púrpura azul e dourado, num fundo que oscilava entre rosa antigo, lilás e azul escuro.
Ela se aproximou devagar, como se pisasse num sonho ofegante, porém frágil, e estendeu o dedinho indicador, tocando a estrela ainda úmida de tinta.
De repente, sentiu um arrepio subir pela espinha, um frio gélido tomou conta.
"Estou bem atrás de você."
A voz era suave, quase sussurrada, mas havia nela um eco antigo, como se pertencesse a uma época distante.
A garotinha virou-se, com os olhos arregalados e as mãos trêmulas.
Uma harpa dedilhava a si mesma, junto com um leve movimento, como um tornado de poeira à sua volta – parecia indicar uma presença.
O artista soltou seus olhos da pintura por um instante, tentou esboçar um sorriso, mas preferiu manter-se indiferente. Voltou-se e continuou a pintar.
A garotinha engoliu em seco e fixou o olhar na estrela que acabara de tocar.
Algo nela parecia pulsar, como um coração que acordava de um longo sono.
Por: Clene Salles (todos os direitos reservados)
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